Assembléia Geral 2022

EDITAL DE CONVOCAÇÃO PARA ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA

ASSOCIAÇÃO NEOTROPICAL PRIMATES RESEARCH GROUP

CNPJ: 27.924.875/0001-36

Na qualidade de Presidente da Associação Neotropical Primates Research Group, CNPJ 27.924.875/001-36, no uso das atribuições conferidas pelo Estatuto Social, convoco todos os respectivos associados para se reunirem em Assembleia Geral Ordinária, que se realizará na Escola de Artes, Ciências e Humanidades – Universidade de São Paulo (USP Leste), à Avenida Arlindo Bettio, nº 1000, Bairro Vila Guaraciaba, São Paulo, SP, CEP 03828-000, no dia 30.12.2022 às 14 horas, com presença de qualquer número de associados, a fim de deliberarem sobre os seguintes assuntos, a serem decididos e aprovados pela maioria simples dos associados presentes:

  1. Prestação de contas do exercício 2022 compreendendo

a. Relatório anual da diretoria

b. Contas da associação

  1. Possível encerramento das atividades da Associação
  2. Qualquer assunto de interesse da associação.

A Assembleia Geral será também transmitida via sistema telepresencial, permitindo a participação de associados e interessados estabelecidos em outras localidades, conforme faculta disposição contida no artigo 19º, § 1º do estatuto da entidade.

São Paulo, 30 de setembro de 2022

________________________

Michele Pereira Verderane

Presidente

Oportunidade de pesquisa com primatas

Nossa equipe de pesquisa no Parque Nacional de Ubajara está procurando voluntários graduandos ou recém-graduados para auxiliar na pesquisa de campo com os macacos-prego (Sapajus libidinosus).

Parque Nacional de Ubajara

As atividades envolvem o acompanhamento de um grupos de macacos-prego, do amanhecer ao anoitecer (15 dias/mês), e a coleta de dados ecológicos na área (5 dias/mês).

Será oferecido ajuda de custo de R$900,00 + alojamento + passagens (1 ida e 1 volta). Alimentação não inclusa.

Interessados entrar em contato pelo email pesquisa@neoprego.org , enviando carta de interese e experiências prévias.

Interações primatas

Alguns dos nossos pesquisadores acabam de publicar um estudo sobre as interações dos macacos-prego (Sapajus sp) com outros primatas em 3 áreas de estudo.

O trabalho foi publicado na revista Primates e descreve o que acontece quando macacos de espécies diferentes se encontram. Eles brigam, fogem, se ignoram?

Esse estudo foi feito com dados de 3 populações diferentes. Ciência é um trabalho colaborativo, especialmente para entender comportamentos mais raros, como essas interações. Juntos conseguimos resultados melhores!

Foram registrados interações dos macacos-prego (Sapajus libidinosus e S. nigritus) com 3 outros primatas: saguis (Callithrix), muriquis (Brachyteles) e bugios (Alouatta)

As interações com saguis foram raras e neutras. Os macacos-prego normalmente ignoram os saguis e estes ativamente evitam os macacos-prego.

Já os muriquis, bem maiores que os macacos-prego, são normalmente evitados ou ignorados pelos pregos.

As interação agressivas mais frequentes foram contra os pobres bugios, principalmente nas populações do nordeste! Os macacos-prego (normalmente juvenis) perseguiam e agrediam jovens bugios, mas sem acabar em predação. Um comportamento bem parecido com um bully. 

Video feito pelo Tiago Falótico mostrando os macacos-prego da Serra da Capivara atazanando alguns bugios. Essa era a interação mais comum nas 2 populações do nordeste estudadas.

Comparando as populações e grupos, foi verificado que grupos maiores e nas áreas mais secas/abertas são mais agressivos, mas que o tamanho corporal parece ser também um fator para o tipo de interação.

Quem quiser ler o artigo, aqui está o link da publicação: https://rdcu.be/cjZfi

Essa pesquisa foi feita por pesquisadores da NeoPrego e Universidade de São Paulo, com apoio da FAPESP e CNPq.

Referência: Falótico, T., Mendonça-Furtado, O., Fogaça, M. D., Tokuda, M., Ottoni, E. B., & Verderane, M. P. (2021). Wild robust capuchin monkey interactions with sympatric primates. Primates. https://doi.org/10.1007/s10329-021-00913-x

Ferramenta masculina (Revista Pesquisa FAPESP)

Repostagem da reportagem “Ferramenta masculina” publicada na Revista Pesquisa FAPESP

Mesmo em paredes de pedra, machos jovens observam adulto em ação de caça

Tiago Falótico / USP

As fêmeas de macacos-prego (Sapajus libidinosus) que vivem no Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, são tão habilidosas quanto os machos no uso de pedras para quebrar frutos e castanhas, mas não usam gravetos, o que seria útil durante a caça para cutucar animais em fendas na pedra e até para espantar cobras e animais perigosos — como fazem os machos. Intrigados com essa diferença de comportamento entre os sexos, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) acompanharam um grupo de oito jovens macacos — três fêmeas e cinco machos — durante dois anos, fase inicial do processo de aprendizado.

“Nossa primeira hipótese era de que as fêmeas não fizessem parte da rede social dos machos adultos”, relata o biólogo Tiago Falótico, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH-USP), coordenador da equipe e primeiro autor do artigo publicado este mês (5/3) no site da revista American Journal of Primatology. Nessa espécie, os macacos jovens se aproximam dos mais velhos para observar e aprender. Mas, quando fizeram diagramas com as conexões sociais em grupos desses primatas, a hipótese não se confirmou.

“As jovens tinham liberdade de se aproximar dos machos adultos e até de escolher aqueles que manipulam a vareta com maior eficiência”, relata Falótico. Mas mesmo estando bem perto do macho, nas nossas observações, elas só olharam 36% das vezes para o que eles estavam fazendo, enquanto machos o fizeram em 85% das ocasiões.

Tiago Falótico / USPJovem treina uso de graveto para alcançar insetos em cavidades nas árvoresTiago Falótico / USP

Aparentemente a falta de interesse das fêmeas não se dirige à vareta, mas aos machos em si. Os pesquisadores têm dois motivos para pensar assim: primeiro, o fato de que as jovens costumam observar outras fêmeas com mais atenção do que olham os machos. “As fêmeas do macaco-prego vivem em grupos familiares femininos, enquanto os machos saem do grupo natal e migram para outros grupos”, explica Falótico.

Segundo, porque esses primatas passaram mais tempo olhando fotos de macacos do mesmo sexo, em experimentos de laboratório. Essa tendência é importante porque a observação atenta é a forma mais comum de aprendizado entre os macacos-prego.

Algumas fêmeas aprenderam a usar varetas para resolver problemas, como tirar mel de uma caixa, ao cabo de três ou quatro meses em estudos experimentais em um parque urbano de Goiânia, feitos há alguns anos pelo psicólogo Rafael Cardoso, durante doutorado orientado pelo biólogo Eduardo Ottoni no Instituto de Psicologia da USP (IP-USP). Na natureza não fazem isso, mas usam pedras – às vezes, até mais pesadas do que elas mesmas – para quebrar cocos e castanhas e também para desenterrar aranhas e lagartos de tocas no chão. No período reprodutivo, atiram pedras nos machos como uma forma de comunicação sexual. Diante do amplo repertório, parece insatisfatório que apenas o desinteresse pelo mundo masculino explique a ausência do uso de gravetos.

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=8NzZklT1sQk]
Contexto desmotivante
Uma possibilidade é que o contexto em que os gravetos são usados desestimule o aprendizado. São caçadas silenciosas que acontecem em locais de acesso difícil, geralmente em paredões de pedra, onde observar de perto é mais desafiador. A presa é ingerida logo que sai da toca e não sobra muito para os jovens observadores, como acontece na caça de escorpião flagrada no vídeo acima. A falta de estímulo visual, sonoro e calórico pode ser um conjunto pouco atraente para que elas se dediquem à arte do graveto, de acordo com o estudo.

Em contraste, as ferramentas de pedra, populares entre ambos os sexos, são usadas em locais fixos e fáceis de visualizar, produzem restos abundantes de alimento e fazem barulho. É um ambiente estimulante para os jovens. “É possível que essa disponibilidade de alimento, em especial, seja uma motivação importante para as fêmeas, mais do que para os machos”, propõe Falótico. “Elas terão custos reprodutivos maiores durante a gravidez e a amamentação e talvez avaliem de forma mais criteriosa o retorno calórico de cada atividade.”

Além disso, as fêmeas talvez não fiquem muito impressionadas com a eficiência do galho. De fato, sua taxa de sucesso é de apenas 20%, enquanto a pedra dá resultado positivo em ao menos 70% das vezes, conforme cálculo dos pesquisadores.

Tiago Falótico / USPA captura de cupins é um uso comum da ferramentaTiago Falótico / USP

Para elas, os galhos parecem dignos apenas de serem mordiscados e talvez para coçar o nariz. Em contraste, os jovens machos brincam entusiasmados com o instrumento, enfiando-o em buracos ou fendas na pedra, mesmo sem sinal da presa. “Caçar com o graveto exige técnica específica para localizar a presa”, pondera Falótico. Mesmo assim, não é especialmente complicado: eles demoram cerca de dois anos para aprender, um pouco menos que o tempo necessário para adquirir proficiência no uso da pedra.

“Aparentemente, há uma barreira rígida de comportamento ligada ao sexo, que mantém as fêmeas longe das varetas”, comenta a arqueóloga Mercedes Okumura, do Instituto de Biociências da USP, que não participou do estudo. “É uma situação bem diferente do viés de sexo em seres humanos, mais flexível e determinado por fatores culturais.”

Por outro lado, assim como muitos primatas, somos uma espécie que transmite conhecimento e cultura. “Nós também aprendemos observando outras pessoas, sobretudo aquelas que detêm algum tipo de poder”, diz ela. A influência exercida por pessoas famosas seria um exemplo disso.

Inteligência de chimpanzé
Os macacos-prego não são os únicos primatas não humanos que usam gravetos. Os chimpanzés os usam para fisgar cupins, tirar mel dos favos ou até para ferir presas durante a perseguição. “Nos chimpanzés, assim como no macaco-prego, jovens machos manipulam ferramentas com mais frequência”, explica a primatóloga Kathelijne Koops, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, a Pesquisa FAPESP. “Mas, quando observamos em detalhes o uso do instrumento, percebemos que as fêmeas têm um repertório maior de uso e o fazem com mais eficiência, enquanto nos machos jovens predomina a brincadeira.”

Tiago Falótico / USPAprendizes treinam inserindo varetas nas frestas que encontramTiago Falótico / USP

Embora o macaco-prego seja bem menor que o chimpanzé, a relação entre cérebro e tamanho do corpo é parecida — ele tem o maior cérebro entre os primatas originários do Novo Mundo e é o único que usa ferramentas. Eles já as usavam há 3 mil anos e introduziram inovações há cerca de 600 anos, como pedras, para processar recursos. Mais recentemente começaram a usar pedras maiores. Há evidências de que a transmissão do conhecimento venha ocorrendo há centenas de gerações.

Por enquanto, o uso de varetas só foi observado nos macacos-prego da serra da Capivara. Mas, para a bióloga Briseida Resende, do IP-USP, que estuda a espécie no sul do Piauí, a 300 quilômetros da serra da Capivara, falta saber mais. “É possível que usem a ferramenta em situações difíceis de observar, como em cima das árvores”, diz ela, embora esse tipo de ação não tenha sido avistada em 15 anos de trabalho na região.

“A pesquisa foi feita com poucas fêmeas, e é cedo para tirar conclusões sobre o viés de sexo no comportamento de macacos imaturos”, ressalta Resende. “Fatores ecológicos ainda não compreendidos podem influenciar a escolha da ferramenta”, ela sugere. “Será que a maneira como manipulam as ferramentas também é diferente entre os sexos?”, questiona Koops.

Projetos
1. Uso de ferramentas por macacos-prego (Sapajus libidinosus) selvagens: Ecologia, aprendizagem socialmente mediada e tradições comportamentais (nº 14/04818-0); Modalidade Projeto Temático; Pesquisador responsável Eduardo Benedicto Ottoni (USP); Investimento R$ 611.005,29.
2. Uso de ferramentas por macacos-prego: Aprendizagem e tradição (nº 13/05219-0); Modalidade Bolsa de Pós-doutorado; Pesquisador responsável Eduardo Benedicto Ottoni (USP); Bolsista Tiago Falótico; Investimento R$ 423.450,88.


Artigo científico
FALÓTICO, T. et al. Ontogeny and sex differences in object manipulation and probe tool use by wild tufted capuchin monkeys (Sapajus libidinosus). American Journal of Primatology. on-line. 5 mar. 2021.


Este texto foi originalmente publicado por Pesquisa FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

var img = new Image(); img.src=’https://revistapesquisa.fapesp.br/republicacao_frame?id=388015&referer=’ + window.location.href;

Vagas para alunos no projeto CapCult

(as the position advertised only fits Brazilian students, we will write only in Portuguese)

Logo do projeto CapCult

O projeto CapCult, apoiado pela Neoprego, está selecionando 2 estudantes da USP para vagas de Iniciação Científica no projeto, preferencialmente da USP Leste (EACH).

As vagas são para pessoas com interesse em comportamento animal em geral ou, especificamente, de primatas, e que tenham afinidade com trabalho de campo.

Requisitos essenciais são:
• Disponibilidade de ao menos 2 períodos inteiros (manhã ou tarde) durante a semana
• Capacidade para trabalho de campo (entrar no mato atrás dos macacos)

Habilidades adicionais de interesse, mas não essenciais:
• Inglês intermediário ou superior
• Experiência em campo
• Experiência em observação comportamental
• Experiência em uso de câmeras/máquinas fotográficas

Fêmea adulta de macaco-prego carregando um infante

Atividades a serem desenvolvidas no projeto:
• Coleta de dados comportamentais dos macacos-prego do Parque Ecológico do Tietê (PET)
• Organização e análise dos dados coletados no PET e nas outras populações estudadas
• Uso dos softwares Observer e BORIS.
• Coleta de pelos e fezes dos macacos, para análise genética
• Auxiliar a equipe na aplicação dos experimentos e outras atividades em campo
• Elaboração de relatório sobre as atividades

Atividade adicionais que podem ser desenvolvidas futuramente, caso haja interesse:
• Projeto próprio
• Escrever artigos sobre os dados coletados

Interessados, enviar ao e-mail falotico@usp.br uma carta elaborando porque se interessou no projeto e qual sua formação e habilidades (incluir link do Currículo Lattes).
Recebimento das cartas de interesse até 06/03/2020.

Assembleia geral 2019

Chegou àquele momento do ano, de se reunir na assembleia da neoprego.

Esse ano a assembleia será na USP Leste, no dia 29/10, com primeira chamada as 13:30 e segunda chamada as 14h.

Nessa assembleia deliberaremos sobre os seguintes assuntos, a serem decididos e aprovados pela maioria simples dos associados presentes:

  1. Prestação de contas do exercício 2018 compreendendo:
    • Relatório anual da diretoria
    • Contas da associação
  2. Apreciar solicitações de adesão de associados efetivos

Edital: edital-convocaccca7acc83o-2019.pdf

Cultura de uso de ferramentas por macacos-prego variou ao longo de 3 mil anos

Reproduzindo aqui a ótima repostagem sobre o trabalho da Arqueologia Primata, que acaba de publicar um artigo descrevendo ferramentas de até 3000 anos usadas pelos macacos-prego da Serra da Capivara.

Cultura de uso de ferramentas por macacos-prego variou ao longo de 3 mil anos

Macho adulto quebra castanha-de-caju, observado de perto por um jovem (primeiro plano) e uma fêmea (ao fundo)

Tiago Falótico / USP

Enquanto arqueólogos escavam o solo duro e seco da Caatinga no Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, em busca de vestígios do passado, macacos-prego logo ao lado usam pedras para quebrar cocos, sementes e castanhas-de-caju. Provavelmente de modo semelhante ao que fazem há pelo menos 3 mil anos, como revela parceria entre pesquisadores da Inglaterra e do Brasil. “Eles vão se tornando um pouco primatólogos, enquanto nós viramos um pouco arqueólogos”, conta o biólogo Tiago Falótico, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), que coordenou as escavações mais recentes. Há seis anos ele e seu antigo supervisor Eduardo Ottoni, do Instituto de Psicologia da USP, trabalham em parceria com os arqueólogos britânicos Michael Haslam e Tomos Proffitt, do University College London, na investigação de como viviam os macacos. Descobriram que, assim como acontece hoje entre diferentes grupos de primatas, no passado a cultura de uso de ferramentas variou, como descreve artigo publicado nesta segunda (24/6) na revista Nature Ecology & Evolution. “É a primeira vez que se constata essa variação cultural em registros arqueológicos de primatas não humanos”, afirma Falótico.

Há alguns anos as escavações por lá revelaram que os macacos-prego da serra da Capivara (Sapajus libidinosus) já usavam pedras para quebrar castanhas-de-caju em tempos pré-colombianos. Chimpanzés, que desbancaram o uso de ferramentas como característica definidora dos seres humanos, já manejavam pedras há 4 mil anos de acordo com escavações na Costa do Marfim, na África. Mas lá não há sinais de que tenham alterado o comportamento.

Os macacos-prego são ricos em variações de comportamento, que alguns especialistas chamam de culturas. Há grupos que usam pedras, outros preferem gravetos. Depende do tipo de alimento disponível em cada área, mas também do que os jovens de cada população aprendem com os mais velhos. Da mesma maneira, à medida que foram escavando mais fundo – e regredindo no tempo – os pesquisadores encontraram variação. O material depositado entre 2.400 e 3 mil anos atrás revela o uso extenso de pedras pequenas, cheias de quebras causadas por impactos repetidos. Provavelmente eram usadas para processar alimentos menos duros do que castanhas-de-caju. “Hoje eles usam pedras semelhantes para quebrar sementes e frutos como os da maniçoba [Manihot pseudoglaziovii], uma planta da família da mandioca”, conta Falótico, que interpreta as marcas no material arqueológico com base no que os macacos fazem hoje. Infelizmente não foi possível detectar resíduos dos alimentos nas pedras encontradas, mas ele ainda não desistiu. “Outras áreas podem ter condições de preservação diferentes que um dia nos permitam identificar resíduos.”

Na fase seguinte, entre aproximadamente 565 e 640 anos atrás, conforme datação de fragmentos de carvão resultantes de queimadas e presentes no sedimento, os macacos ainda usavam pedras pequenas, mas já existiam mais bigornas – superfícies planas onde apoiam o alimento no momento da quebra. Mais recentemente, eles parecem ter começado a usar pedras maiores que permitem processar castanhas bem duras e disseminaram o uso de bigornas. Eles chegam a erguer acima da cabeça pedras de cerca de 3 quilogramas, semelhante ao próprio peso. Também usam pedras para cavar e paquerar, entre outras utilidades.

É impossível estabelecer os motivos dessa variação no registro arqueológico. Será que começavam a desenvolver as técnicas e aos poucos foram descobrindo que funcionava e explorando fontes alimentares antes inacessíveis? Ou grupos da mesma época já tinham costumes variáveis, transmitidos de uma geração para outra, e a escavação de outros sítios revelará uma diversidade cultural já nos tempos mais antigos? Ou, ainda, em certos momentos os alimentos disponíveis não exigiam maiores esforços? Todas são possibilidades plausíveis, embora a análise de amostras de pólen fossilizado revele que há 7 mil anos já havia cajueiros na região. Não significa, porém, que estivessem constantemente em todos os lugares, pode ter havido variação na abundância dessa árvore.

O trabalho – dos macacos no manejo das pedras e das pessoas que os estudam – continua, e Falótico divide seu tempo de trabalho de campo entre as escavações e a observação do comportamento atual. “Gosto mais de seguir os macacos do que de ficar agachado cavando”, confessa. Ele tem se concentrado em estudar os padrões das lascas obtidas pela quebra das pedras batidas umas contra as outras, que alguns anos atrás se mostraram indistinguíveis daquelas produzidas pelos homens das cavernas. A região, onde registros da ocupação humana podem estar entre os mais antigos do continente, ainda parece ter muito a revelar sobre as atividades de pessoas e macacos ao longo de milhares de anos.

“Pode haver sítios ainda não encontrados relacionados a primatas”, diz a arqueóloga Mercedes Okumura, do Instituto de Biociências da USP, que não tem conhecimento de outro sítio comparável em termos de documentação de arqueologia envolvendo tanto seres humanos como outros primatas. Ela é coautora de um artigo publicado em 2018 na revista Quaternaire que descreve a formação das camadas arqueológicas do boqueirão da Pedra Furada, no Parque Nacional da Serra da Capivara, levando em conta as contribuições de pessoas e macacos (contou para isso com acesso aos dados do grupo de Falótico). Entre os achados das escavações é difícil dizer quem produziu as lascas mais simples, ela conta, mas atribui com segurança a seres humanos estruturas mais complexas de pedra lascada. Ela vê como frutífera a relação com os arqueólogos-primatólogos. “Me refiro realmente a uma via de mão dupla: quem faz arqueologia ‘humana’ pode aprender muito também ao estudar esses casos relacionados a outros primatas.”

Projetos

1. Uso de ferramentas por macacos-prego (Sapajus libidinosus) selvagens: ecologia, aprendizagem socialmente mediada e tradições comportamentais (nº 2014/04818-0); Modalidade Auxílio à Pesquisa — Temático; Pesquisador responsável Eduardo Benedicto Ottoni (USP); Investimento R$ 611.005,29.

2. Uso de ferramentas por macacos-prego: aprendizagem e tradição (nº 2013/05219-0); Modalidade Bolsa de pós-doutorado; Pesquisador responsável Eduardo Benedicto Ottoni (USP); Beneficiário Tiago Falótico; Investimento R$ 423.450,88.

Artigos científicos

FALÓTICO, T. et al. Three thousand years of wild capuchin stone tool use. Nature Ecology & Evolution. on-line. 26 jun. 2019.

PARENTI, F. et al. Genesis and taphonomy of the archaeological layers of Pedra Furada rock-shelter, Brazil. Quaternaire. v. 29, n. 3, p. 255-69. nov. 2018.

Republicar

Este texto foi originalmente publicado por Pesquisa FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

 

Participação no Congresso AAPA 2019

Durante os dias 26 à 30 de Março, eu (Mari) e o Tiago representamos a NeoPReGo no 88 Encontro Anual da Sociedade Americana de Antropologia Física, em Cleveland, Estados Unidos da America.

Antropologia Física, também conhecida como Antropologia Biológica é uma disciplina científica que aborda aspectos biológicos e comportamentais dos seres humanos, seus ancestrais hominídeos extintos e primatas não humanos relacionados,  a partir de uma perspectiva evolucionária.

Os pesquisadores Mariana, Tiago, Michele e Olívia, vinculados à NeoPReGo, trabalham com temas que também se encontram dentro desta disciplina e que podem ajudar tanto no entendimento do processo evoutivo como traçar planos de ações para conservação.

Abaixo a relação dos trabalhos apresentados neste congresso. Vocês podem ver os resumos desses trabalho assim como todos os demais apresentados no congresso  aqui e você pode saber mais sobre as linhas das pesquisas dos pesquisadores associados à NeoPReGo aqui.

To cook or not to cook: shellfish feeding in tufted capuchins FOGAÇA, LAIRD, WRIGHT, SALMI e SANTOS

Age-related variation in ingestive behaviour patterns in Sapajus spp. CHALK-WILAYT, LAIRD, WRIGHT, RIVERA, WRIGHT,  IZAR, FRAGASZY, ROSS, STRAIT, CASTEREN, VISALBERGHI, SCOTT e FOGAÇA

Impacts of grit on dental microwear formation: a time series approach DESANTIS, TEAFORD e  FOGAÇA

Grit in unexpected places: The prevalence of grit in the diets of robust capuchin species VAN CASTEREN, FOGAÇA, FRAGASZY, IZAR, ROSS, SCOTT, WRIGHT, WRIGHT e STRAIT

Food mechanical properties and dietary ecology in sympatric Pithecia e Chiropotes during a period of preferred food scarcity LEDOGAR, WRIGHT, GRANATOSKY, LAIRD, CHALK-WILAYTO, FOGAÇA, VAN CASTEREN, ROSS e STRAIT

Work minimization and toppling concerns predict limb phasing in wild primates GRANATOSKY, ROSS, LAIRD, VAN CASTEREN, CHALK-WILAYTO, FOGAÇA, LEDOGAR, STRAIT, WRIGHT e USHERWOOD

 

 

 

2 anos! E muitos por virem. Celebrate:we are 2 years old!

À 2 anos, um grupo de sonhadores uniram forças. Desde então muitas pessoas se juntaram à tornando possível alcançarmos nosso objetivo. Hoje, viemos agradecer e convidar vocês a caminhar conosco em 2019 também.

2 years ago, a group of dreamers joined forces. Since then many people have joined making it possible to reach our goal. Today, we came to thank you and invite you to join us in 2019 as well.

Screen Shot 2019-01-01 at 21.08.29.png

An italian in the Atlantic Forest | Uma italiana na Mata Atlântica | Un’italiana nella Foresta Atlantica

This is the report of our collaborator Giulia Assogna about her field work time in Rio do Brasil reserve this year. Text in English, Português e Italiano.

An Italian in the Atlantic Forest

Giulia Assogna

I had the pleasure of collaborate with the NGO Neotropical Primates Research Group in May and June 2018, staying at Private Reserve Rio do Brasil (Porto Seguro, southern Bahia), a Brazilian Atlantic Forest area, preserved since 2008. My assistance in NeoPrego’s research was part of an international project called “TornoSubito”, financed and supported by Regione Lazio (Italy). In this project, I participate as a biologist and educator.

For me, who lived my whole life in a big city, Rome, it was an incredible experience to live so close to nature. Every day, at sunrise, my alarm was the chirping of the birds outside the window and the bass lines of the guigó (Callicebus melanochir) heard from distance.

DSC_MACACODACRISTA copiaMy main daily task was to walk in the bush among huge trees, coatis and blue butterflies looking for groups of crested capuchin monkeys (Sapajus robustus). The objective of the research was to habituate them to human presence and to acquire as much information as possible about the populations there, whose habits are still little known by science. The crested capuchin monkey is a species of capuchin monkey endemic to Brazil, that lives in a small range of Atlantic Forest between southern Bahia, east of Minas Gerais and Espírito Santo, and south of Rio Jequitinhonha and north of Rio Doce. It is estimated that the population of this species has declined by 50% over the past 48 years and has been listed as an endangered species. The main causes of this decline are habitat fragmentation and loss of territory in which these animals live to give way to livestock and cacao crops. Knowing the habits of a species is the first step for formulating a successful conservation strategy.

Caxinguele - Squirel

In my stay at the reserve I walked a lot, even in the scorching sun or torrential rain days, accompanied by the valiant local guides. They, with love and experience, taught me to recognize the different noises and to pay attention to every minute detail.

To my great satisfaction, I memorized all the tracks and the secret shortcuts among the trees. Also, I spent many hours in a cabin of branches and leaves, skillfully built by the reserve workers, in the only area where the canopy of trees left space for sunlight. There, two automatic traps were placed, and within these we brought fruit and boiled eggs to lure the monkeys. In the hut, quiet for not revealing our presence, we expected at least one individual to get in the trap to eat. In this way we hoped to capture him, install the radio collar and thus follow the group to which he belonged. In the first few days I was in hiding 12 hours a day, along with Dr. Tiago Falótico, hoping that the capture would work. Unfortunately, this has not happened yet. But in the hours of waiting, the silence was magnetic, intense as only the voice of nature knows to be. Outside, the smell of damp moss, mingled with the warmth of the air and the energetic sky interlaced brightly between the trees and leaves, giving the skin a strange sensation. It was like being inside a magic bubble suspended in time.

When, on the way, we heard noises from leaps between branches, we knew the monkeys were very close to us. Then we would hide and stand behind a tree, waiting for the right moment to watch the animals up the forest, record a video or take some photos. Each time, I had to register the GPS point of the encounter, an important action to then designate a fairly accurate map of the area of ​​the species in the reserve.

Before the experience in Brazil, I had never seen a primate outside a zoo. Seeing so many of them all together in their natural habitat made me tremble with emotion. It was an indescribable surprise. They were curious, and at the same time they were afraid. The more daring studied us attentively, and from the top, blinked their eyes in our direction to understand what we were doing. Others, more timid, appeared among the leaves, and soon after hid, fearful of my camera noises. I saw them walk, jump, eat, rub, play, cross their tails, threaten us with branches as a defense. Each time, I saw the force of evolution stand proud in front of my eyes.

Into the woods

Around the place prepared for capture, the forest remained powerful, wild and intact. It always amazed me the unlimited shades of green and the streams that appear suddenly after a rainy day. I enjoyed following the flight of those blue butterflies, large as a hand, and I loved waiting for the redness of the sunset hidden among the palm trees. Before bed, I loved to watch the elegant dance of the fireflies that illuminated the compact darkness of the night.

Every look in the woods gave a feeling of immensity and peace that filled the heart with astonishment. Everything made living a serenity that now has become almost necessity.

NeoPReGo has given me the opportunity to follow for the first time scientific field research, to see stunning landscapes and to independently collect unpublished data on animals difficult to find in the natural habitat. In addition, I had the privilege of knowing a simple and pure culture, truly linked to the fundamental values ​​of existence. I have met good people whose lives are still far from the futile superficiality of this world.

I know that I learned a lot as a researcher, of a sometimes hostile nature, and sometimes a friend. And I know that I grew up as a person, with the wisdom of untiring and patient men. Resolved men, passionate about the bush and the earth, that thrill and offer food in abundance.

Now I went back to my house in Rome. Smiling, I look at the taken photos with affection and I am deeply grateful to have known the wonders of an authentic, difficult and welcoming world of which we, ungrateful, have often forgotten.

Giulia Assogna


Uma italiana na Mata Atlântica

Tive o prazer de colaborar com a ONG Neotropical Primates Research Group nos meses de maio e junho 2018, ficando na RPPN Rio do Brasil (Porto Seguro, sul da Bahia), área de Mata Atlântica brasileira preservada desde 2008. Meu trabalho na pesquisa da NeoPrego foi parte de um projeto internacional chamado “TornoSubito”, financiado e suportado da Regione Lazio (Italia). Neste projeto, eu participo pessoalmente como bióloga e educadora.

Para mim, que a vida toda morei numa cidade grande como Roma, foi uma experiência incrível viver tão perto da natureza. Todos os dias, ao raiar do sol, meu alarme foram o chilrear dos passarinhos fora da janela e os versos  graves dos guigó (Callicebus melanochir) ouvidos a distância.

DSC_mataatlanticaMinha tarefa cotidiana principal era andar no mato entre arvores enormes, quatis e borboletas azuis procurando os grupos de Sapajus robustus. O objetivo da pesquisa era habituar eles á presença humana e adquirir o máximo de informações possíveis sobre as populações presentes, cujos  hábitos são ainda pouco conhecidos pela ciência. O macaco-prego-de-crista (Sapajus robustus) é uma espécie de macaco-prego endêmica do Brasil que vive em uma faixa restrita de Mata Atlântica entre o sul da Bahia, leste de Minas Gerais e Espírito Santo, e ao sul do Rio Jequitinhonha e norte do Rio Doce.  Estima-se que a população desta espécie tenha sofrido um declínio de 50% nos últimos 48 anos, fazendo com que entrasse na lista das espécies consideradas ameaçadas. As principais causas desse declínio são a fragmentação do hábitat e a perda do território em que esses animais vivem para dar lugar à criação de gado e ao plantio de cacau. Conhecer os hábitos de uma espécie é o primeiro passo para formular uma estratégia de conservação que seja exitosa.

IMG_3072Na minha estadia na RPPN andei muito, mesmo nos dias de sol abrasador e nos dias de chuva torrencial, acompanhada pelos valorosos guias locais. Eles, com amor e experiência, me ensinaram a reconhecer os diferentes barulhos e a prestar atenção a cada minúsculo detalhe.

Com minha grande satisfação, memorizei todas as trilhas e os atalhos secretos entre as árvores.  Também, passei muitas horas numa cabana de galhos e folhas, construída com habilidade pelos funcionários da reserva, na única área em que o dossel das árvores deixava espaço livre para a passagem dos raios do sol. Lá, foram colocadas duas armadilhas automáticas, e dentro destas nós trazíamos frutas e ovos cozidos para atrair os macacos-prego. Na cabana, calados para não revelar nossa presença, esperávamos que pelo menos um indivíduo entrasse para comer. Desta maneira podíamos capturar ele, pôr o radio colar e assim seguir nos meses seguintes o grupo ao qual ele pertencia. Nos primeiros dias fiquei no esconderijo 12 horas diárias, junto com o dr. Tiago Falótico, com a esperança que a captura desse certo. Infelizmente, ela ainda não teve sucesso. Mas, nas horas de espera, o silêncio era magnético, intenso como só a voz da natureza sabe ser. Fora daí, o cheiro de musgo úmido, misturado com o calor do ar e o céu enérgico entrelaçava brilhantemente entre as árvores e as folhas, restituindo à pele uma sensação estranha. Era como estar dentro de uma bolha mágica suspensa no tempo.

DSC_ALBAQuando, andando, escutávamos barulhos de pulos entre galhos, sabíamos que os macacos ficavam bastante perto de nós. Então, nos escondíamos imóveis e atentos atrás de uma árvore, esperando o momento certo para observar os animais no alto, gravar um vídeo ou tirar umas fotos. Cada vez, eu tinha que registrar  o ponto GPS do encontro, ação importante para depois designar um mapa bastante preciso da área da espécie na reserva.

Antes da experiência no Brasil, eu nunca tinha visto um primata fora dum jardim zoológico. Ver tantos deles todos juntos no seus habitat natural fazia que eu tremesse de emoção. Foi uma surpresa indescritível.  Eles eram curiosos, e ao mesmo tempo tinham medo. Os mais atrevidos nos estudavam atentamente, e desde o alto piscavam os olhos na nossa direção como para entender o que estávamos fazendo. Outros, mais tímidos, apareciam entre as folhas, e logo depois se escondiam, temerosos pelos barulhos da minha câmera fotográfica. Eu os vi andar, pular, comer, esfregar-se, brincar, cruzar os rabos, ameaçar-nos com galhos como defesa. Cada vez, percebi a força da evolução destacar-se orgulhosa em frente aos meus olhos.

Ao redor do lugar preparado para captura, a mata persistia poderosa, selvagem e intacta. Ela me surpreendia sempre com as ilimitadas tonalidades de verde e os cursos d’água que surgiam de repente logo depois dum dia de chuva. Gostei de seguir o voo daquelas borboletas azuis, grandes como uma mão, e adorei esperar a vermelhidão do pôr do sol escondido entre as palmeiras. Antes de dormir, eu amava observar a dança elegante dos vaga-lumes que iluminava a escuridão compacta da noite.

Cada olhada na mata doava uma sensação de imensidão e de paz que inchava o coração de assombro. Tudo fazia viver uma serenidade que agora se tornou quase necessidade.

img_3115A NeoPReGo deu para mim a oportunidade de seguir pela primeira vez uma pesquisa científica de campo, de ver paisagens impressionantes e de coletar autonomamente dados inéditos sobre animais difíceis de encontrar no habitat natural. Além disso, tive o privilégio de conhecer uma cultura simples e pura, verdadeiramente ligada aos valores fundamentais da existência. Conheci pessoas boas, cuja vida segue ainda distante da superficialidade inútil deste mundo.

Sei que aprendi muito como pesquisadora, de uma natureza as vezes hostil, e as vezes amiga. E sei que cresci como pessoa, com a sabedoria de homens incansáveis e pacientes. Homens resolvidos, apaixonados pela mata e pela terra, que emociona e oferece comida em abundância.

Agora voltei a minha casa, em Roma. Sorrindo, olho para as fotos coletadas com carinho e fico profundamente agradecida por ter conhecido as maravilhas de um mundo autêntico, difícil e acolhedor, de qual nós, ingratos, muitas vezes nos esquecemos.

Giulia Assogna


Un’italiana nella Foresta Atlantica

Ho avuto il piacere di collaborare con la ONG “NeoPReGo” (Neotropical Primates Research Group) nei mesi di maggio e giugno 2018 a Porto Seguro, sud dello stato di Bahia (Brasile), nella “Reserva Particular do Patrimonio Natural Rio do Brasil”, una porzione di Foresta atlantica brasiliana preservata dal 2008. Il mio contributo al lavoro della NeoPreGo nella Riserva è stato parte di un progetto di mobilità internazionale chiamato TornoSubito, sviluppato e supportato dalla regione Lazio (Italia), cui partecipo in quanto biologa ed educatrice.

Sapajus_robustus copiaPer me, che ho sempre vissuto in una grande città come Roma, è stata un’esperienza meravigliosa vivere a così stretto contatto con la natura. Il cinguettio degli uccelli e il richiamo potente dei Guigò (Callicebus melanochir), udito in lontananza, erano la mia sveglia, all’alba. Il mio maggior incarico quotidiano in foresta consisteva nel ricercare i gruppi di Sapajus robustus (Cebi dal ciuffo), specie endemica della Mata Atlantica brasiliana, incontrando farfalle turchesi, procioni sudamericani, alberi imponenti e foglie giganti. L’obiettivo dello studio era acquisire quante più informazioni possibili riguardo le popolazioni di questa specie presenti nell’area, le cui abitudini sono ancora poco conosciute alla scienza. Sapajaus robustus è infatti una specie minacciata di estinzione principalmente a causa della perdita di habitat, modificato per far spazio a piantagioni di cacao, di caffè e per l’allevamento del bestiame. Secondo la IUCN c’è stato un declino del 50% della numerosità della specie negli ultimi 48 anni, tanto che il suo areale è ormai limitato alla regione compresa tra il sud di Bahia, nord di Espírito Santo e nord-est di Minas Gerais. Conoscere le abitudini della specie è il primo passo per poter formulare una strategia di conservazione ottimale.

IMG_3107Durante la mia permanenza nella RPPN ho camminato senza sosta, accompagnata da valide ed esperte guide locali, sia nelle giornate torride, sia sotto ai temporali. Loro, con perizia e amore, mi hanno insegnato a distinguere i suoni della foresta e a fare attenzione ad ogni piccolo dettaglio. Con mia grande soddisfazione, ho imparato a memoria i percorsi, le scorciatoie e i passaggi segreti tra gli alberi. Ho trascorso anche tante ore in una capanna di foglie, costruita con maestria dai lavoratori della riserva, nell’unica area dove la canopy vegetale lasciava un po’ di spazio libero al passaggio dei raggi del sole. Lì avevamo collocato due gabbie automatiche, e all’interno di queste posizionavamo della frutta fresca e delle uova sode per attrarre gli individui. In silenzio, per non rivelare la nostra presenza, aspettavamo nella capanna che almeno uno di loro entrasse a mangiare, per poi catturarlo, apporre il radiocollare e poter seguire così il suo gruppo di appartenenza nei mesi successivi. Nei primi giorni sono rimasta all’interno del nascondiglio per 12 ore consecutive, insieme al dottor Tiago Falotico, sperando, invano, che la cattura avesse successo.

Nelle interminabili ore di attesa il silenzio era magnetico, profondo come solo la voce della Natura sa essere. Fuori da lì, l’odore di muschio umido, misto al caldo dell’aria e al cielo potente che s’intrecciava luminoso tra i rami e le foglie, mi restituivano una sensazione strana, come di essere rinchiusi in una bolla sospesa nel tempo. Camminavamo ininterrottamente, dall’alba al tramonto. Quando riuscivamo a sentire rumore di salti tra i rami, sapevamo che i cebi erano abbastanza vicini a noi. Allora ci nascondevamo dietro qualche albero, immobili e vigili, aspettando il momento opportuno per registrare un video o fare qualche foto. Dovevamo segnare il punto GPS, per poi poter ricostruire una mappa sufficientemente precisa dell’areale della specie.

Prima di questa esperienza in Brasile, io non avevo mai visto un primate fuori da un giardino zoologico, e vederne tanti tutti insieme nel loro habitat naturale mi faceva tremare dall’emozione. Era una sorpresa indescrivibile. Erano curiosi, e al tempo stesso avevano paura. I più sfacciati ci studiavano attentamente, e strizzavano gli occhi guardandoci dall’alto. Altri, più timidi, facevano capolino da dietro le foglie, e si nascondevano subito dopo, spaventati dal rumore della macchina fotografica. Li ho visti camminare, saltare, grattarsi, giocare, incrociare le loro lunghe code e minacciarci con i rami in segno di difesa. Ogni volta, ho percepito la forza dell’evoluzione stagliarsi fiera davanti ai miei occhi. La foresta incontaminata, vivace e temibile al tempo stesso, si estendeva tutt’intorno all’area predisposta alla cattura. Mi sorprendeva sempre con i suoi innumerevoli toni del verde e i corsi d’acqua impetuosi, che sorgevano all’improvviso poco dopo un acquazzone.  Mi affascinava seguire il volo inquieto delle farfalle, grandi quanto il palmo di una mano, e con gioia aspettavo il rosseggiare del tramonto nascosto tra le palme. Prima di dormire, osservavo incantata la danza elegante delle lucciole, che rischiarava il buio fitto della notte. Ogni sguardo nella foresta regalava una sensazione d’immensità e di pace che riempiva il cuore di stupore, e faceva vivere un’armonia che ora mi sembra un’esigenza.

26478144_UnknownLa NeoPReGo mi ha dato l’opportunità di accompagnare per la prima volta una ricerca scientifica su campo, di vedere paesaggi impressionanti e di raccogliere in autonomia dati inediti su animali difficili da incontrare nel loro habitat. Oltre a questo, ho avuto il piacere e l’onore di conoscere una cultura semplice e genuina, veramente legata ai valori fondamentali della vita e ancora lontana dalla superficialità inutile che sembra ormai inevitabile in questo mondo.

So di aver imparato tanto come ricercatrice, da una natura a volte ostile e a volte amica. E so di essere cresciuta come persona, grazie alla saggezza di uomini infaticabili e pazienti. Uomini innamorati della loro terra, che emoziona e offre cibo in abbondanza.

Ora sono tornata a casa, a Roma. Sorridendo guardo le foto raccolte con cura, e mi sento profondamente fortunata per aver conosciuto le meraviglie di un mondo autentico, difficile ma accogliente, di cui noi, ingrati, troppo spesso ci dimentichiamo.

Giulia Assogna