Parque Nacional de Ubajara está localizado no estado do Ceará. Entre os seus principais atrativos estão a Gruta de Ubajara, acessada pelo famoso bondinho, bem como um circuito de trilhas e cachoeiras. O parque é uma das poucas áreas preservadas de Caatinga , o único bioma exclusivamente brasileiro. Contudo, é uma área de Caatinga muito mais úmida do que a do Parque Nacional Serra da Capivara.

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O macaco-prego (Sapajus libidinosus) é uma das espécies de primatas que habitam o parque, juntamente com o ameaçado guariba-da-caatinga (Alouatta ululata) e o sagui-de-tufo-branco (Callithrix jacchus).

Em 2020, nosso pesquisador Tiago Falótico, juntamente com a equipe do Projeto CapCult, começou a estudar essa população de macacos-prego pela primeira vez, mapeando os sítios de quebra de cocos. Descobrimos que eles usam pedras como martelos para a quebra de coco babaçu (Attalea speciosa) e de macaúba (Acrocomia aculeata). Esses recursos são muito duros: a força necessária para quebrar uma macaúba é 7 vezes maior do que a força para quebrar uma castanha-do-pará. Já para quebrar um babaçu, é necessária 33 vezes mais força!

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Uma das características mais interessantes desse parque é a presença de dois ecossistemas muito diferentes lado a lado. A região do Planalto do parque é mais úmida e fria por conta da altitude, possuindo uma vegetação de mata úmida. Já a região mais baixa, de planície, é mais quente e seca, apresentando uma vegetação mais de mata seca e de caatinga arbórea. Essas diferenças ecológicas influenciam na disponibilidade de palmeiras e pedras e se refletem no comportamento dos macacos: há cerca de 4 vezes mais sítios de quebra na área de planície.

Em 2021, um grupo dessa população foi acompanhado pela primeira vez pela nossa pesquisadora Tatiane Valença em seus estudos de doutorado na Universidade de São Paulo. Durante o período de habituação do Grupo Sertão, ela notou que a fêmea alfa, nomeada Baleia, carregava um filhote com uma deficiência na perna. A mãe e os outros membros do grupo forneceram cuidados especiais ao filhote, o Balaio. Infelizmente, o filhote morreu algumas semanas depois e a mãe continuou carregando o corpo por um certo tempo. Em 2023, Baleia teve outro filhote, Beiju, que está se desenvolvendo bem.

De 2022 a 2023, o uso de ferramentas, a terrestrialidade e outros fatores ecológicos foram sistematicamente registrados pela Tati Valença com a assistência dos nossos membros, Gabriela Affonço e Guilherme Mugnaini; e também de nossos colaboradores, Emiliane Cardoso e Germano Cardoso. Em seus estudos de doutorado, ela está descrevendo o repertório de uso de ferramentas dessa população. Ela também está investigando se a terrestrialidade pode afetar as áreas onde os macacos usam ferramentas e as causas da alta terrestrialidade do macaco-prego-amarelo. Esses dados estão atualmente sendo analisados no Instituto Max Planck de Comportamento Animal na Alemanha.

Em 2022, a equipe CapCult também começou a conduzir estudos de arqueologia primata nesta população. Nossa pesquisadora, Gabriela Affonço, está realizando seus estudos de mestrado na Universidade de São Paulo, investigando os fragmentos e lascas gerados pelas atividades de uso de ferramentas pelos macacos-prego.


Referências:

  • ICMBio
  • Valença, T., Cardoso, E., & Falótico, T. (2025). Predatory attack on a bearded capuchin monkey by a Boa constrictorPrimates66(4), 349–353. https://doi.org/10.1007/s10329-025-01191-7
  • Falótico, T., Valença, T., Verderane, M. P., Santana, B. C., & Sirianni, G. (2024). Mapping nut‐cracking in a new population of wild capuchin monkeys (Sapajus libidinosus) at Ubajara National Park, Brazil. American Journal of Primatology, 86(4), e23595. https://doi.org/10.1002/ajp.23595
  • Valença, T., & Falótico, T. (2023). Life and death of a disabled wild capuchin monkey infant. Primates, 64, 207–213. https://doi.org/10.1007/s10329-023-01052-1